Go Go Power Rangers - Volume um

Leonardo Fraga
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Poucas trilhas sonoras marcaram tanto uma geração quanto a de Mighty Morphin Power Rangers. Criada por Ron Wasserman, a música de abertura da série foi composta de forma curiosa: usando apenas um teclado carregado com samplers de guitarra e bateria. O refrão “Go Go Power Rangers!” ecoou pela primeira vez em 1993 e nunca mais saiu da memória dos fãs.

No Brasil, a série criada por Haim Saban estreou em 1995 na TV Colosso, e rapidamente se tornou um fenômeno. A mistura de ação, ficção científica e artes marciais, apresentada em um formato ainda pouco conhecido no Ocidente, revolucionou a programação infantil da época.



Grande parte desse impacto veio da adaptação inteligente de imagens da série japonesa Kyōryū Sentai Zyuranger (1992), mais precisamente a 16ª temporada da franquia Super Sentai, criada pela Toei Company. As cenas de batalha, monstros, trajes, robôs gigantes e até a Rita Repulsa (no original, Rita Bandora, até por isso o Castelo de Rita, na Lua é chamado de Palácio da Bandora) vinham do Japão, enquanto o cotidiano dos personagens de Alameda dos Anjos era filmado nos Estados Unidos. Essa fusão deu identidade própria à série.



O cotidiano por trás do uniforme

Jason Lee Scott (Ranger Vermelho), Zack Taylor (Preto), Kimberly Hart (Rosa), Trini Kwan (Amarela) e Billy Cranston (Azul) não eram apenas heróis, eram adolescentes comuns, com dilemas, inseguranças e conflitos típicos da idade. Escolhidos pelo alienígena Zordon para defender a Terra da feiticeira Rita Repulsa, eles precisavam conciliar a vida escolar e pessoal com a responsabilidade de salvar o mundo.

E, para muitos fãs, (incluindo eu) essa sempre foi a parte mais interessante da série.



É justamente aí que Go Go Power Rangers, HQ publicada pela BOOM! Studios nos EUA e no Brasil pela IndieVisível Press, encontra seu brilho. A série foge da fórmula repetitiva do seriado: Rita cria um monstro, o monstro cresce, surgem os Zords e o Megazord resolve tudo; para focar no que faltava: profundidade emocional e desenvolvimento de personagens.




Uma base sólida para novos e antigos fãs

As quatro primeiras histórias de Go Go Power Rangers formam um arco inicial extremamente consistente, recomendado tanto para fãs veteranos quanto para novos leitores interessados em histórias sobre amadurecimento, amizade e responsabilidade.

Escritas por Ryan Parrott e desenhadas por Dan Mora (hoje destaque na DC Comics, em títulos como Superman e Batman/Superman: Melhores do Mundo), essas histórias revisitam os primeiros dias dos Power Rangers, explorando quem esses adolescentes são antes e depois de vestirem os uniformes coloridos.



Primeira história – Antes da Tempestade (Os títulos das histórias não estão na edição da Indie que apenas numerou os capítulos)

O arco inicial funciona como uma introdução emocional ao grupo. Em vez de grandes batalhas, o foco está nos conflitos pessoais logo após os Rangers receberem seus poderes.

Kimberly lida com inseguranças e isolamento; Billy enfrenta dificuldades de comunicação e identidade; Jason questiona o peso da liderança; Trini sofre com a vigilância constante da mãe; e Zack observa o grupo tentando encontrar equilíbrio.

A HQ também resolve um antigo “buraco” da série de TV: o destino dos astronautas que libertaram Rita Repulsa na Lua. Aqui, os Rangers chegam a ir até o castelo de Rita, uma missão impossível para a série televisiva da época, mas perfeitamente viável nos quadrinhos, livres de limitações orçamentárias.




Segunda história – Rita Repulsa e o teste da equipe

Neste arco, Rita passa a agir de forma mais estratégica, testando não apenas os poderes dos Rangers, mas sua capacidade de atuar como um time. Ela acaba descobrindo o nome de cada um na história anterior.

A desconfiança de Zack em relação à liderança de Jason ganha destaque. Billy tenta lidar com sua genialidade e a busca por uma bolsa de estudos. É explicado inclusive, como uma pessoa que não sabe nada sobre lutas como ele, consegue saber tudo sobre artes marciais ao se transformar. Também surgem elementos importantes para o futuro da franquia, como a aproximação entre Jason e Trini e a introdução de Matt, namorado de Kimberly.

Zordon e Alpha 5 aparecem menos como figuras infalíveis e mais como mentores distantes, reforçando a sensação de aprendizado dos Rangers “na marra”.



Terceira história – Dores crescentes

Aqui, as consequências emocionais da vida dupla dos heróis ficam mais claras. Relações pessoais são afetadas, segredos pesam e a pressão psicológica aumenta.

Kimberly e Billy ganham destaque especial, enquanto a série aborda o amadurecimento como um processo inevitável e doloroso. Há humor, mas ele surge como válvula de escape, não como distração.

É especialmente divertido ver os Rangers como jovens ativos e voluntários na Alameda dos Anjos, propondo melhorias e ajudando na reconstrução de áreas destruídas pelas batalhas do Megazord. A dupla Bulk e Skull também ganha desenvolvimento, incluindo uma antiga amizade entre Billy e Skull que se perdeu com o tempo.

 



Quarta história – O peso de ser um Power Ranger

O quarto arco fecha esse primeiro ciclo temático mostrando um grupo ainda imperfeito, mas mais consciente de suas responsabilidades. Os conflitos internos diminuem e a noção de trabalho em equipe começa a se consolidar.

Fica claro que Go Go Power Rangers não tenta competir com a série Mighty Morphin Power Rangers (também publicada no Brasil pela Indie) em escala épica (que aborda a chegada do Ranger Verde), mas sim complementá-la, oferecendo uma visão mais humana e emocional dos personagens.

A história traz uma grande batalha e um gancho para as próximas histórias muito interessante envolvendo Matt. A edição traz capas variantes ao final, com desenhos de Gurihiru, por exemplo, que fez Superman Esmaga Klan.


            

Dan Mora: o grande destaque

Se há um consenso entre leitores, é que a arte de Dan Mora eleva a série a outro nível. Seu traço é limpo, expressivo e dinâmico, transmitindo emoção mesmo nas cenas mais simples. As sequências de ação são claras, empolgantes e modernas, mas é nos momentos silenciosos, olhares, hesitações, linguagem corporal, que o artista realmente se destaca.

Os Zords e monstros ganham uma presença imponente, parecendo verdadeiramente ameaçadores. É a arte que impede que a história descambe para o “bobo” e a transforma em uma HQ madura, envolvente e memorável.




 A publicação no Brasil: um problemão

Em dezembro de 2023, durante a CCXP23, a IndieVisível Press anunciou oficialmente a publicação dos quadrinhos dos Power Rangers da BOOM! Studios no Brasil, começando por Go Go Power Rangers. A proposta era ambiciosa: encadernados mesclando várias séries, além de one-shots e grandes sagas como Rede Estilhaçada.

Apesar de lançar alguns títulos isolados, a editora interrompeu as publicações de Go Go Power Rangers e Mighty Morphin Power Rangers na terceira edição. A quarta edição de Go Go chegou a ser anunciada, mas nunca foi lançada. Desde então, a editora desapareceu das redes sociais, o site foi desativado e leitores seguem sem respostas.

No Reclame Aqui, há diversas queixas sobre atrasos prolongados e falta de comunicação.

 

Arte de Gurihiru

E a situação nos EUA?

Nos Estados Unidos, Go Go Power Rangers foi publicada entre 2017 e 2020, totalizando 32 edições, posteriormente reunidas em encadernados. A série teve início, meio e fim bem definidos dentro da continuidade da BOOM!Studios.

A linha de quadrinhos Power Rangers seguiu ativa com grandes eventos como Rede Estilhaçada (publicada no Brasil), Unlimited Power e Darkest Hour, que marcou o encerramento de uma era editorial. Atualmente, a franquia continua viva com novas propostas, como Power Rangers Prime, iniciada em 2024.

 

 Ron Wasserman contando como criou a trilha sonora de Power Rangers:


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