Dylan Dog Especial Volume 1 – Histórias que atravessam o tempo e o terror

Leonardo Fraga
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Em Dylan Dog Especial Volume 1, publicado pela EditoraLorentz, encontramos duas histórias escritas por Tiziano Sclavi que mergulham fundo na veia antológica do horror, cada uma com seu narrador excêntrico, seus contos macabros e, claro, com Dylan Dog em meio ao caos.

A primeira história, “O Clube do Terror”, com arte de Corrado Roi, apresenta uma estrutura simples, porém poderosa: seis pessoas se reúnem anualmente para contar histórias assustadoras, e cabe a Dylan Dog escolher a melhor. O tema desta edição do clube é o monstro do Lago Ness.





Cada conto tem sua peculiaridade e geralmente são protagonizadas pelo narrador e Dylan Dog que ao final do conto dá sua opinião. Os narradores são grande destaque com pitadas de referências, como Agatha Ensor (nome em referência a Agatha Christie e James Ensor, pintor belga do estilo impressionista), ou o Presidente do Clube Sir William Neil (que pode ser uma referência a Roy William Neil, produtor e diretor da década de 1940. Lançou "Frankenstein encontra Lobisomem" (1943). Frankenstein que é uma referência a Mary Shelley que fazia parte do Clube do Terror original, local em que contou a história do monstro pela primeira vez).





Roi entrega aqui uma arte detalhada e atmosférica, distinta de seu estilo mais recente e abstrato. As cenas de terror são impactantes e até mesmo há uma referência a “Alien”, de Ridley Scott, com um filhote do monstro do Lago Ness surgindo de uma banheira. As histórias cativam, e ainda que Groucho esteja ausente, sua sombra paira nas falas e atitudes de outros personagens. Até Martin Mystère é mencionado, em uma celebração do universo Bonelli. A minha história preferida foi a do Ike, embora seu método de contar a história fosse discutível, o julgamento final de Dylan foi justo.





Na segunda história, “Os Horrores de Outroquando”, ilustrada por Attilio Micheluzzi, entramos em uma dimensão ainda mais metafísica. O narrador é Azazel, um ser que habita uma cidade flutuante entre tempo e espaço. Ele precisa entreter sua enigmática entidade superio, (chamada apenas de “Vossa Enormidade”), com oito histórias bizarras e surpreendentes, algumas protagonizadas por Dylan Dog. Caso Azazel falhe, o universo pode colapsar.





Aqui, Sclavi brilha com sua imaginação sem limites, entregando contos que vão de sátiras a reflexões existenciais, como um que trata de Inteligência Artificial, assunto tão atual que curiosamente foi escrito em 1988. Micheluzzi, falecido em 1990, oferece uma arte versátil, que oscila entre o estilo cartunesco e cenas de puro splatter horror, remetendo até à brutalidade visual de “Evil Dead”, de Sam Raimi. Seu Dylan tem um olhar irônico, quase blasé, e o Bloch aparece rechonchudo, mas carregado de seriedade.




O grande mérito também vai para a tradução de Paulo Guanaes, que adapta com maestria a linguagem intrincada de Azazel, repleta de jogos temporais e reverências grandiloquentes, como no trecho: “Vossa Enormidade é especialmente magnânima, ontem, e não sei como lhe agradecer se tivesse sido outro dia...”. Guanaes dá fluidez e humor a um texto que, nas mãos erradas, poderia ser confuso ou descartável.




Ambas as histórias são retratos brilhantes do talento de Sclavi para narrativas em formato de antologia, ao estilo das clássicas revistas “Creepy” e “Eerie”. Com atmosferas densas, narradores marcantes e tramas carregadas de referências e simbolismo, “Dylan Dog Especial Volume 1” é uma homenagem à essência do personagem e ao horror literário que o inspirou.




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